Brokeback Mountain (2005)

Em Brokeback Mountain a violência é social e repressora ao sensível. A história narra como dois jovens vão trabalhar no pastoreio de ovelhas ao lado de uma Reserva Nacional, e acabam se envolvendo sexualmente e sentimentalmente. O filme trabalha com as condições de expressão e repressão da orientação sexual. Ennies Del Mar (Heath Ledger) é o mais sisudo e preocupado com as repercussões sociais: em seu primeiro beijo, ele diz que não é um “queer”. Posteriormente, ele é o primeiro a casar e ter filhos, mas se reapaixona quando encontra Jake anos depois. Por todos os vinte anos, ele se recusa a persistência dos dois em irem morar juntos, temendo as consequências.

A repressão começa logo na infância quando seu pai o leva para ver um velho fazendeiro homossexual que foi assassinado. O evento traumático leva Ennie à paranóia constante. Jake, por outro lado, é o mais festivo e mais aberto e bem resolvido com sua sexualidade. Ele acaba casando com uma jovem milionária – personagem de Anne Hathaway – mas continua a explorar sua sexualidade por toda a vida. A rejeição de morar junto por Ennie o leva a buscar michês no México, mas ele se envolve também com outro fazendeiro, e com outras mulheres. A narrativa não se fecha em defini-los como homossexuais ou bissexuais, e Ennie parece estar só vestindo uma mascara social.

Ao final, eles têm uma discussão por que Ennie, mais uma vez, tinha um compromisso de trabalho e demoraria a poder voltar a vê-lo, e posteriormente recebe a notícia que Jake estava morto. Ao ligar para Hathaway, ela conta que ele morreu em um acidente com o pneu – e as imagens contrastam com ele ser assassinado: isso pode ser o que de fato aconteceu e Hathaway ocultou para poupá-lo, ou projeção de Ennie. Ennie busca a jaqueta preferida de Jake na casa dos pais – que sabem da sexualidade de Jake, mas não gostam e a guarda no armário – símbolo de que sua homossexualidade dali nunca sairá, mas cancela um trabalho para ir ao casamento da filha, reconhecendo o amor que aprendeu com Jake.

Um “subgênero” que passou a ser produzido pelo menos desde a década de 1950 que anteciparam e desenvolveram sobre a crise são o que Lee Clark Mitchell chamou de late westerns, e Neil Campbell de post-westerns, que são filmes que atualizam o espaço do Oeste Americano para um período contemporâneo. Um dos primeiros e mais importantes filmes foi Bad Day at Black Rock (John Sturges, 1955), um suspense inspirado em filmes noir sobre o assassinato de um fazendeiro nipo-americano por habitantes xenófobos, após Pearl Harbor. Neil Campbell vai definir que estes filmes oferecem “alternative counterfictions” que desafiam a autoridade do sensível tradicional sobre o Oeste Americano. Campbell vai se referir a uma Westness, em um paralelo com a teoria de Edward Said sobre o Orientalismo, para falar da apropriação e realocação de ideias para um determinado espaço que possui uma sensação que remete aos tropos do gênero, mas que mantém uma fluidez constante de identidade. Lee Clark Mitchell vai argumentar que estes filmes não podem ser designados como “pós”, enquanto uma ruptura, mas sim uma continuidade tardia dos Westerns, inscrevendo sobre o espaço para além da ideologia dos mitos.

Estes filmes continuaram a serem feitos ao longo da década, expressando complexas alegorias sobre o Oeste Americano, e criticando muito dos fundamentos do Mito da Fronteira. Nos anos 2000 este tipo de produção ganhou ainda mais proeminência com filmes como No Country for Old Men (Tommy Lee Jones, 2007) e Brokeback Mountain (Ang Lee, 2005).

Geralmente situado temporalmente após o fim da conquista da Fronteira, o progresso e sua violência são pouco tematizados pelos Westerns tardios. Via de regra, aparece como um processo já consolidado que trouxe mais bem do que mal. E o que de fato é explicitado são as condições ambientais ainda difíceis aos quais os homens que lá vivem devem suportar.

Cawelti vai apontar que nos westerns tardios, o simbolismo clássico do Oeste não somente foi constantemente parodiado, mas também inspirou “novos desenvolvimentos no cinema (film), literatura and history”. A partir do conceito de “desterritorialização de Paul Blenton”, Cawelti vai pensar isso no sentido tanto de que Westerns são feitos agora em outros países quanto estes vão redefinir e expandir o sentido [meaning] do Oeste (ainda mais) como terreno/território mítico·. Para Cawelti, produções como a minissérie Lonesome Dove e o filme Unforgiven nos anos 1980 e 1990 apresentaram uma ambiguidade dialética entre o mito e a história, e constantemente demonstram como o mito se impõe sobre a realidade.