The Holdovers (2023)
- robsonsbello
- 21 de mai. de 2024
- 2 min de leitura
No ato final do filme, o professor de História profere a frase que é uma chave-mestra para a compreensão do longa: “Se você realmente quer entender o presente ou a si mesmo, você deve começar no passado. Veja, história não é simplesmente o estudo do passado. É uma explicação do presente”.
The Holdovers apresenta três personagens principais: Paul Hunhan, um professor de História Antiga, extremamente exigente e muito autoritário; Angus Tully, um jovem estudante de colegial, inteligente, que é obrigado a passar os feriados de fim de ano em seu internato por que a mãe vai ter uma lua de mel com o padrasto; e Mary Lamb, a cozinheira da escola, que recentemente perdeu o filho, que foi alistado na Guerra do Vietnã, e lá faleceu.
Ao longo do filme, o passado de cada personagem vai sendo revelado e explica o presente comportamento.
O autoritarismo e a rigidez de Hunhan vão sendo contextualizados durante o longa: ele é estrábico, tem um problema físico que o faz ter odores muito fortes, e ele foi expulso de Harvard por que alguém plagiou seu trabalho, forçando-o a voltar a ser professor de seu colégio, com a bondade do ex-diretor ocultando esse fato.
O jovem Tully, que nos é apresentado como o único aluno que tirou uma boa nota na prova de Hunhan, e está empolgado para fazer uma viagem de férias, é forçado a ficar isolado durante as festas no internato. O que nos inicialmente é apresentado como um menino privilegiado e mimado logo dá lugar a uma outra representação: ele estuda no internato rico por que seu padastro tem dinheiro, mas ele não tem uma boa relação com esse novo relacionamento; e seu pai, ao qual ele ama muito, e apresenta como se estivesse morto, na verdade está internado em uma clínica psiquiátrica com graves problemas mentais.
Já Mary Lamb é apresentada ainda mais trágica: não só seu filho faleceu, como o pai do garoto morreu também muito jovem. Apesar de se demonstrar forte, tem sérios problemas com alcool, e é vítima da estupidez de adolescentes ricos. Ainda assim, vai visitar sua irmã que está grávida, e apesar de seu trauma, reconcilia-se com o trauma através do amor familiar.
São três personagens complexos que são demonstrados em seus traumas e contraditoriedades, e ao qual o passado contextual desenvolve sua humanidade.
Uma elaboração teórica dos filósofos iluministas para entender o passado é um chavão que diz que é preciso compreender o passado, para agir no presente, e guiar o futuro. Apesar de não ser explicitamente dito no filme, é justamente o reconhecimento dos personagens de seu passado que os permitem agir no presente e alterar seu futuro.
Mary Lamb será uma tia, cujo sobrinho irá carregar o nome de seu filho; Tully poderá ser “alguém” na vida após dividir as experiências e ver o exemplo de seu professor; e Hunhan, que sempre esteve preso aos rígidos códigos de honra e orgulho do internato, se liberta em direção ao novo.
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